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Sabatina

João Luis dos Santos

Publicado aos sábados

18/01/2020

Secretário da Cultura de Bolsonaro convida a chamarmos o governo de nazista

(artigo de Leonardo Sakamoto)

 

“Toma-se todo o cuidado para evitar comparar comportamentos do governo Jair Bolsonaro com práticas adotadas pelo regime nazista de Adolf Hitler. Jornalistas e historiadores, por mais que cocem as mãos diante de fatos e processos similares, sabem que há um abismo intransponível de distância entre ambos. Existe até um nome para o uso dessa comparação: "Reductio ad Hitlerum", ou seja, a redução de uma argumentação a Hitler e os nazistas. Como há poucas coisas tão ruins na história da humanidade como esse, comparar alguém a ele é tentar desqualificar pura e simplesmente quando faltam argumentos. Por isso, é visto como uma falácia”.

 

Legitimando posições

“A expressão do filósofo político L. Strauss tem uso tão frequente em debates que o advogado norte-americano Mike Godwin criou uma "lei" sarcástica para isso: "à medida que uma discussão on-line se alonga, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou os nazistas tende a 100%". Mas, nesta quinta (16), o secretário da Cultura de Jair Bolsonaro, o dramaturgo Roberto Alvim, legitimou comparações que se evitava fazer com o governo federal quanto aos seus surtos autoritários e fascistas ao copiar um discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista, em um vídeo gravado por ele para falar de um programa de apoio às artes”.

 

Nazismo na veia

“Pior: também copiou a estética de Goebbels, a aparência, as palavras escolhidas, o tom de voz, a trilha sonora. O plágio foi primeiro notado pelo site Jornalistas Livres. "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada", disse o ministro de Hitler em discurso para diretores de teatro, segundo o livro "Goebbels: a Biography", de Peter Longerich. "A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada", afirmou Roberto Alvim.

 

Notório equívoco

“Após visitar o Memorial do Holocausto, em Israel, em abril, Jair Bolsonaro afirmou que o nazismo foi um movimento de esquerda. Alinhava-se ao seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e ao guru de ambos, Olavo de Carvalho, mas batia de frente com a posição expressa por pesquisas do próprio Memorial, pelo governo da Alemanha (que viu o nazismo nascer) e pela esmagadora maioria dos historiadores em todo o mundo, que tratam do assunto praticamente como consenso. Aliás, em 2018, a Embaixada da Alemanha em Brasília foi chamada de comunista nas redes sociais por ela ter postado um vídeo explicando que o nazismo é um movimento de extrema-direita. Se não bastasse isso, nossos conterrâneos foram além, tentando explicar aos alemães que eles não entendiam muito bem do tema”. Os próprios judeus e os israelitas não-judeus já apontaram o equívoco de Bolsonaro: reafirmaram que o nazismo e o fascismo são movimentos políticos vinculados à direita.

 

Estética nazista

”Roberto Alvim pode até se justificar, dizendo que isso não passou de uma "performance" artística para causar incômodo, a fim de reduzir o estrago. Isso se tiver coragem de assumir o que fez. Ele prestou, contudo, dois favores. Primeiro, devolveu o nazismo ao seu lugar de direito, ou seja, junto a governos de extrema-direita. E ajudou o governo a sair do armário. Já que um alto funcionário de Bolsonaro abraça a ética e a estética nazista, a população do Brasil e do mundo pode chamar o governo por aquilo que alguns de seus membros almejam que ele seja”.(artigo do jornalista e cientista política Leonardo Sakamoto)

 

Repercussão

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, se pronunciou hoje, no Twitter, a respeito do discurso proferido pelo secretário da Cultura, Roberto Alvim. Ao anunciar novo programa do governo, Alvim praticamente copiou a fala de um discurso do líder nazista Joseph Goebbles. Maia sugeriu que o governo deve afastá-lo imediatamente do cargo e classificou como "inaceitável" sua postura em vídeo publicado na noite de ontem, nas redes sociais. O secretário da Cultura passou de todos os limites. É inaceitável. O governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo", escreveu o Presidente da Câmara dos Deputados.

 

Demissão sumária

A Secretaria Especial da Cultura informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o secretário Roberto Alvim foi demitido do cargo. A exoneração acontece após Alvim parafrasear um discurso de Joseph Goebbels, mentor de Hitler e ministro da Propaganda da Alemanha Nazista. Ontem, sexta-feira, dia 17 de janeiro de 2020, a assessoria do Presidente Bolsonaro avisou o Congresso Nacional que o secretário seria demitido após a repercussão do caso nas redes sociais e a manifestação pública de diversas lideranças nacionais. Somou-se a Rodrigo Maia, o Presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que é de ascendência judia, afirmou em nota que o discurso de Alvim é “acintoso, descabido e infeliz”. Já o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, disse que a “fala foi uma ofensa ao povo brasileiro”.

 

Recado da Confederação Israelita do Brasil

"Emular a visão do ministro da Propaganda nazista de Hitler, Joseph Goebbels, é um sinal assustador da sua visão [de Alvim] de cultura, que deve ser combatida e contida. Uma pessoa com esse pensamento não pode comandar a cultura do nosso país e deve ser afastada do cargo imediatamente."

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