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Sabatina

João Luis dos Santos

Publicado aos sábados

08/02/2020

Contra a fulanização na política local

Do mesmo modo como já aconteceu em outros tempos em nossa cidade e como acontece em nível nacional, vai aparecendo cenário em Penápolis de um fenômeno que batizamos de “fulanização” da disputa eleitoral e político-partidária no palco de 2020.  Ainda são os resquícios da Velha Monarquia e da Velha República Brasileira em que o povo esperava um “salvador da pátria” para resolver todos os seus problemas. Muitos pleitos eleitorais em nossa cidade foram verdadeiros embates eleitorais entre figuras públicas que se colocaram à disposição para servir a população. Nem sempre o mais preparado para o exercício do cargo foi o eleito. Nem sempre aqueles que tinham melhores propostas e projetos para cidade venceram nas urnas. Nem sempre aqueles que estão acompanhados de pessoas de ilibada reputação local sagraram vencedores. São muitas lições que a população vai aprendendo e esse aprendizado somente acontece com a democracia, com seus acertos e erros. Os avanços somente ocorrem na democracia. Mesmo que o povo e seus representantes ainda patinem em processos eleitorais em que a disputa tende se restringir em colocar numa balança as virtudes e os defeitos pessoais dos postulantes aos cargos (vereador, vice-prefeito e prefeito). Winston Churchill cunhou a famosa frase: “a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais”.

 

Partidos culpados

Os próprios partidos políticos têm parcela de culpa nesse cenário. Inclusive há partidos tradicionais na cidade que, a cada eleição, vai buscar lideranças em outros partidos para serem seus representantes, seja no Executivo seja no Legislativo. E as “moedas de troca” são moedas mesmo. Oferecem estrutura de campanha (moedas) na busca de eleitores, em sua maioria desavisados sobre os bastidores locais. Em vez de formar seus filiados e simpatizantes, capacitá-los em torno do que o Partido entende como ético e justo, vai bater na porta de lideranças de outros partidos, fazendo ofertas indecorosas, senão ilegais e criminosas. E isso vira um ciclo vicioso que contamina todo o processo, levando a população ao entendimento de “são todos farinha do mesmo saco” ou, pior, que “todos são desonestos e estão mais preocupados em manter um emprego de político por quatro anos”.  O ibope dos partidos e dos políticos é vergonhoso e isso não é bom para democracia, pois nivela todos e todas no nível abaixo do tapete.

 

Fulano e Sicrano

E as falácias já começam: “não voto em Fulano porque tem apoio do Beltrano”; “eu não voto no Sicrano porque está andando com tais pessoas”. São tantos motivos banais ou não sobre votar ou não votar em determinados candidatos, sendo muito forte a rejeição pessoal. Não vota nem em Fulano nem em Sicrano por questões de ordem pessoal. Escolhem mais os candidatos locais pela simpatia. Rejeitam mais os candidatos pela antipatia. Assim, vai se configurando cenários das eleições municipais da cidade, em que a postura pessoal (e postura aqui não se vincula a questão ética) são mais valorizadas do que as ideias e as propostas dos possíveis candidatos ou candidatas. Postura é importante e devemos eleger pessoas empáticas. Sem empatia não há política solidária e a política precisa ser solidária. Ética e honestidade devem estar no cerne de cada um e não podem ser vantagens. Honestidade é obrigação de quem postula uma função política pública. Mas junto disso tudo, também ideias, propostas, projetos, concepções de políticas públicas para todos os setores da cidade e da Administração Municipal. O eleitor de 2020 será mais exigente e aqueles que desejam se colocar na política vão sofrer muitas restrições e muitas surpresas.

 

Uma breve história

Era o ano de 1976. Reta final da eleição municipal. Acompanhei meu pai Plinio e meu tio Miguel (irmão de minha mãe Jesuína), todos em memória saudosos, em um comício na Praça da Vila Fátima. Minha família, em unanimidade, apoiava o candidato Ricardo Castilho, especialmente pela convivência fraterna entre as famílias no Município de Glicério. Um grandioso comício com a presença do ilustre deputado Ulisses Guimarães, presidente nacional do MDB e líder importante do processo de redemocratização do país. Um comício tão grandioso que muitos correligionários dos candidatos de oposição à chapa do Dr. Ricardo Castilho / Firmino Sampaio compareceram ao evento. Eu tinha 11 anos de idade mas recordo de um diálogo de dois senhores com meu pai e meu tio. Foi a primeira vez que ouvi a palavra “comunista”. Os senhores tentavam convencer meu Pai e meu Tio mudarem de voto. A frase foi mais ou menos essa: “está vendo, esse Ulisses Guimarães é o maior comunista do Brasil e todos que estão no palanque também são comunistas”. Meu pai ficou em silêncio, deixando as palavras entrarem por um ouvido e saírem pelo outro. Mas meu tio Miguel era mais afoito, não perdeu a oportunidade e disse de forma contundente: “se o Dr. Ricardo é comunista eu também sou comunista e voto nele e todo esse povo aqui é comunista também, e vocês não tinham que estar aqui nesse local não”. Os senhores silenciaram e saíram de mansinho. Pensei comigo, meio confuso, então eu também sou comunista. Somente muito tempo depois descobri que Dr. Ulisses, Dr. Ricardo, Firmino Sampaio, meu tio Miguel, meu pai Plinio, nenhum deles era comunista na acepção ideológica e partidária do termo.

 

Recado de Mahatma Gandhi

“Sete pecados sociais: política sem princípios, riqueza sem trabalho, prazer sem consciência, conhecimento sem caráter, comércio sem moralidade, ciência sem humanidade e culto sem sacrifício”.

 

santos.joaoluis@yahoo.com.br

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