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Sabatina

João Luis dos Santos

Publicado aos sábados

23/05/2020

Fortalecer a saúde pública por meio do SUS

Os mais jovens não sabem, não viveram a experiência de “dormirem na Fila do INPS” (na verdade INAMPS) em busca de guia para consulta em um médico. Além de atravessar a noite na fila, corria o risco de, chegando sua vez de ser atendido, não tivesse mais o passe (a senha) para a consulta. Registra-se que somente tinha direito a enfrentar essa fila quem fosse contribuinte do INPS (que depois virou INSS). Aqueles que não eram contribuintes do sistema ou pagavam consultas a médicos particulares ou espera ficar muito doente, em situação de indigência, para serem atendidos em filantropia pela Santa Casa. Penápolis, na década de 1980, com o então prefeito João Carlos D’Elia (1983 a 1988), médico, com apoio de sua equipe e articuladores na área de saúde, como a enfermeira Beth D’Elia e o médico Zeca Monteiro, que era diretor regional da saúde, teve experiência inédita e se transformou em uma das referências nacionais que deram diretrizes à construção do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde, o famoso SUDS – e, em seguida, do próprio SUS – Sistema Único de Saúde. Vieram os P.A.S. – Postos de Assistência à Saúde nas regiões mais periféricas, as Macros, O Ambulatório de Saúde Mental e toda a estrutura do CISA – Consórcios Intermunicipal de Saúde, com as especialidades. Além da administração direta, o SUS também começou financiar, depois, as instituições filantrópicas que prestam serviços na área da saúde, como a Santa Casa, o Hospital Espírita e, mais recentemente, a APAE.

 

SUS na berlinda

Durante muitos anos, com uma tendência cada vez mais privatista da saúde (os dois ministros demissionários da saúde Mandetta e Teich, por exemplo, eram indicações do setor privatista da saúde), o SUS foi colocado na berlinda, sendo muito criticado. No entanto, todos sabem      que o grande gargalo do SUS é o próprio setor privado, que sempre usufruiu da estrutura do SUS para se manter equilibrado economicamente. O outro gargalo, são as fontes de financiamento. Enqunatro as Prefeituras investem quase um terço de seus orçamentos em saúde (mais que Educação), os Governos Estaduais e o Governo Federal ficam distribuindo migalhas vez ou outra ou buscando parcerias privadas que são muito onerosas ao Poder Público e fonte de grandes desvios. Entretanto, com a pandemia do coronavírus, ganha-se no país a unanimidade sobre a necessidade de fortalecimento do nosso castigado Sistema Único de Saúde. A pandemia, paradoxalmente, tem mostrado o pior e o melhor do SUS. Para o que há de pior, existem ótimas estratégias para superação.

 

Fortalecer o SUS

O próprio ex-ministro Mandetta, oriundo dos negócios privados da saúde, passou a defender o SUS e a necessidade de seu fortalecimento como política pública de primeira grandeza. Não fosse essa rede hospitalar, sustentada integral ou parcialmente pelo SUS, o caos já teria tomado conta do país. Os desafios, os problemas e as dificuldades são imensuráveis, mas há certo e ponderado equilibro, dando condições sustentáveis de atendimento. Falta de profissionais, falta de equipamentos, instalações precárias era o estado crítico da saúde pública no Brasil. Se, de um lado, as fragilidades são expostas, de outro lado, uma oportunidade de mostrar para os governantes e autoridades públicas, para a sociedade em geral e para a imprensa que os parâmetros e a estrutura do SUS estão fazendo a diferença e salvando vidas de brasileiros, de norte a sul do país, em meio à pandemia. Eis uma tarefa para o presente e para o futuro: fortalecer o Sistema Único de Saúde no Brasil.

 

Vendedor de sonhos

No início dessa semana, Penápolis perdeu uma pessoa que fazia a alegria de muitas pessoas pelas ruas e avenidas da cidade, Luiz Carlos Bambolim, o vendedor de sonhos. Também conhecido por “Diet” devido a brincadeira que ele fazia com os doces (sonhos) que vendia, dizendo que poderia comer a vontade porque era “diet”. Seu bordão, “olha o diet, olha o diet” está na memória de milhares de penapolenses. Crescemos juntos ali - uma grande turma de moleques alegres no alto da Vila Fátima. Jogávamos futebol no Campo do Fátima Futebol Clube, estudávamos no Grupo Escolar Ginásio (GEG) Marcos Trench, fizemos primeira comunhão na Casa Anjo da Guarda, empinamos pipas nos campos do Aeroporto de Penápolis (onde hoje é toda região do Mutirão). Catamos gabiroba e macaúbas no Sítio do Cornélio (onde hoje é o bairro Alphaville), íamos às missas, encontros de jovens e quermesses da Igreja Nossa Senhora de Fátima e no Santuário São Francisco de Assis. Nos embalos de sábado à noite estávamos lá no Clube Corinthians de Penápolis (na esquina em frente ao Banco do Brasil) e aos domingos à noite na Praça Carlos Sampaio Filho.

 

Bambolim

Escrevi alguns anos atrás um conto sobre o "Vendedor de Sonhos" em que uma menina (minha filha Laura) não sonhava e, um dia, comprou todos os sonhos que o vendedor Bambolim vendia, o que permitiu que sonhasse a partir de então.  Desde criança, nosso já saudoso amigo Luiz Carlos Bambolim - isso mesmo, nosso já saudoso Diet, chamava-se Luiz Carlos, sempre foi a alegria em pessoa, sempre sorrindo e sempre à disposição para o que der e vier. Jogava em todas as posições no time de futebol e como não era um craque geralmente era escalado para ser o nosso goleiro. Nunca vi Bambolim triste ou reclamar de qualquer dor ou situação. Enfrentava os desafios e as dificuldades da vida sempre com gratidão e muita alegria. Não tinha esse negócio de tempo ruim para ele não, "uma aroeira para toda obra".  Sempre que nos víamos nas ruas e nas avenidas da cidade, parávamos para rápida prosa, comprava e provava seus doces sonhos e lembrávamos nossa infância e juventude nos arredores de nossa querida Vila Fátima. Luiz Carlos Bambolim, um vendedor de sonhos, um penapolense.

 

santos.joaoluis@yahoo.com.br

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