JARDIM DO LAGO 6 NOVO HORIZONTAL TOPO

Frei Evandro é ordenado sacerdote da Igreja Católica

Cidade

JOVEM PAN PENÁPOLIS

“Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo eu vive em mim”. Com esta exortação de Paulo aos Gálatas (Gl 2,20), frei Evandro Carlos Degan a escolheu para definir o início do seu sacerdócio, tendo sido ordenado presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana na noite deste sábado, 17, no Santuário São Francisco de Assis, em Penápolis.  A ordenação ocorreu pela imposição das mãos e prece de ordenação do bispo da diocese de Araçatuba, Dom Sérgio Krzywy, de demais presbíteros, juntamente com a oração da comunidade reunida.
Frei Evandro é “árvore que deu bons frutos”, isso porque venceu dificuldades e provações para ganhar o prêmio reservado aos perseverantes. De um grupo inicial com 16 seminaristas, apenas ele percorreu o longo caminha de 10 anos de formação para chegar ao sacerdócio.
A sua participação em encontros vocacionais reforçou o chamado para a vida religiosa. O apoio familiar foi muito importante.
A escolha pela Ordem dos Frades Menores Capuchinhos deveu-se ao encantamento pela vida em fraternidade.
Perto de completar 36 anos, frei Evandro é natural de Mirandópolis (SP). Filho de Edson Luis Degan e Ilídia Degan, tem um irmão: Edson Adriano Degan, que mora em Ribeirão Preto. Os pais ainda residem em Birigui.
Ficou em Mirandópolis até os 17 anos. Com a fase adulta dos irmãos, e a busca na melhora de vida, ocorreu a mudança para Birigui. Evandro trabalhou em fábrica de calçados durante 8 anos.
Ao concluir os estudos e estando apto a ser ordenado sacerdote, foi designado para atuar em Penápolis, na fraternidade do Santuário São Francisco de Assis, onde está desde janeiro deste ano e trabalhando junto a 10 movimentos e pastorais.
Leia a seguir a entrevista que frei Evandro concedeu ao jornal INTERIOR na semana de sua ordenação, onde ocorreram tríduo e missões.
INTERIOR: Como surgiu a sua vocação para a vida sacerdotal?
Frei Evandro: Por volta de 2004. Antes, participei do Grupo da Renovação Carismática Católica (por dois anos). Despertou-me o desejo vocacional no movimento da Igreja. Sempre participei da vida comunitária, cantava no coral da Igreja de Fátima (Birigui) e com o tempo surgiu a vocação. Como todo jovem pensava em encontrar uma pessoa, vislumbrava um casamento, em ter filhos, coisas normais de homem e mulher. Mas veio o desejo pelo sacerdócio com vivência e aproximação dos frades capuchinhos. Passei a conhecer mais a vida deles, as celebrações, senti um chamado mais interior, tendo despertado o desejo para a vida religiosa.


Antes do seminário não chegou a ter nenhuma experiência de namoro?
Sim, uma pequena experiência de dois meses. Não deu certo. Fui participar dos encontros vocacionais, dois na Canção Nova (em Cachoeira Paulista) e um Diocesano, em Birigui. Fui a Campinas conhecer a Fraternidade Toca de Assis dos filhos e filhas da pobreza do Santíssimo Sacramento, não para adentrar ao movimento, mas em busca de respostas diante da vocação, se era para a vida religiosa, sacerdócio, enfim. Fiquei quatro dias participando dos irmãos de rua, indo com eles para a realidade das noites, ajudando na limpeza da casa, dos irmãos, aquilo que é o carisma da Fraternidade Toca de Assis.
Por que a opção pelos franciscanos?
Foi pela questão de fraternidade mesmo, de morar junto com os irmãos. Dou grande valor à vida diocesana, mas nunca me senti morando sozinho numa Paróquia. O que sempre me encantou foi morar em fraternidade, em irmãos. Eu vi que a Ordem dos Frades Menores e dos Conventuais e dos Capuchinhos tem diferenças nas realidades da convivência fraterna. E os Capuchinhos são conhecidos no mundo todo pela vivência em fraternidade. Esse é realmente o nosso carisma. Por isso ainda diante da Igreja e do Mundo somos conhecidos como uma Ordem de Irmãos e não como uma Ordem Clerical. Temos padres, mas a nossa essência ainda diante da Igreja Católica e de Roma continua sendo um Movimento Leigo. Somos irmãos, embora tenhamos padres.
Na sua decisão houve apoio ou resistência familiar?
Minha família sempre apoiou a decisão de eu entrar para o seminário; meu irmão não é muito freqüente na Igreja como meus pais e eu, mas também não manifestou nenhuma resistência.
A caminhada para chegar até a ordenação foi cheia de dificuldades?
A gente passa dor diversas dificuldades ao longo do processo de formação, que é de 10 anos. Toda perspectiva daquele jovem que entra para a Fraternidade, para o seminário, é chegar a ser padre ou religioso. Tem todo um processo de caminhada, bases iniciais do conhecimento da fraternidade e do carisma franciscano. Seminário é lugar perfeito onde o ser humano encontra-se consigo mesmo, com seus dons, valores, mas defronta-se com sua realidade, defeitos, problemas, aquilo que não demonstramos muitas vezes nas nossas próprias famílias e perante a sociedade. Na convivência com os irmãos, no seminário, ele nos ajuda a descobrir realmente quem nós somos e qual é a nossa vocação.
Muitos da sua turma de aspirantes ficaram pelo caminho?
A turma inicial contava com 16 candidatos. Ao longo do processo de formação houve desistências e também dispensas. A partir do processo do aspirantado, que é de 6 meses, é sempre algo novo. Nos deparamos com pequenos confrontos, mas leves. Depois de 3 anos de vida religiosa e filosofia o confronto é maior com as diferenças, realidades, limites, problemas e como trabalhar isso juntamente com os irmãos. Então alguns acabaram sendo dispensados, outros viram que não era bem aquilo que desejavam e deixaram a Fraternidade.
Os 3 anos de filosofia em Piracicaba é tempo que nos causa às vezes um temor e um conhecimento maior em relação a Deus, ao próximo e à sociedade. Nos faz questionar muito. O ano canônico, de noviciado, é mais fechado, realizando trabalho de pastoral com o povo. É o período do confronto entre você mesmo e as dificuldades com os irmãos. Em Taubaté, com 4 anos de teologia, basicamente os dois primeiros anos ela te destrói, derruba interiormente posturas, ideias, convicções; é uma teologia às vezes muito pouco fundamentada. É a partir do terceiro e quarto anos que nós começamos construir a nossa fé, de colocarmos diante da nossa vida aquilo que cremos, acreditamos, aquilo que é fundamental para seguirmos e a partir daí os votos perpétuos e o diaconato. É uma caminhada de muita oração, perseverança, persistência, às vezes muitas tristezas pelas desistências dos colegas, mas existiu em mim o ponto central, que são os exemplos de São Francisco e Santa Clara. Outros santos também da Igreja servem de referência, mas como ponto central sempre em Cristo.
Chegou a pensar em desistir na caminhada?
Balança muito sim. Um dos momentos foi na teologia, em Taubaté. Passamos por um momento de encontro consigo mesmo, com as realidades, humanidade, e fica a impressão de que tudo o que aprendeu na faculdade, uma vida de muito estudo e dedicação, e mesmo estando trabalhando com o povo, parece que o que você faz não é nada. Vem a solidão, às vezes um vazio interior, e a reflexão se o que estou fazendo, professando, acreditando, estou fazendo para mim ou para as pessoas? Existiu esse momento muito forte de desistir, voltar para a casa, para os pais, familia, colegas de Birigui para estar continuando a vida que deixei para professar.
E  como se vence estas incertezas?
Com muita oração, partilha com alguns amigos da comunidade, com os frades também, a partir de muita orientação, oração e acompanhamento psicológico para dar conta das situações devido aos muitos estudos e trabalhos pastorais. Tem-se acompanhamento durante 3 anos com psicóloga para ajudar na nossa realidade cotidiana. O mundo nos apresenta realidades boas também, não só más. Temos as realidades para a matrimônio, apenas para leigos, vida consagrada, irmãos religiosos e padres. Mas estava convicto de minha vocação sacerdotal, desde quando entrei, ainda que sabendo que teria que passar por tudo isso. Desde o início, há 10 anos, no começo da caminhada, o chamado para o sacerdote foi mais forte.
E o surgimento de Penápolis como sua primeira Paróquia depois da ordenação?
Penápolis foi uma surpresa para mim. Terminando a teologia fica a expectativa para onde você irá. Participando 4 anos numa Casa de Formação e estudos teológicos, você não deve ficar muito tempo na mesma fraternidade e comunidade, para não causar o comodismo entre o povo e também entre nós frades. Nossa formação deve ser diversificada. Vivemos expectativas de mudanças. Foi curta esta adaptação entre eu sair como estudante da teologia, fazer os votos perpétuos e o diaconato. Neste novo triênio, com o Provincial frei Carlos Silva eu fiquei um pouco assustado, porque o primeiro convite feito era para eu ir para o México. Mas depois conversando, entrando em oração, amadurecendo a ideia, que não se descarta, pensei bastante nesta possibilidade e o desejo de começar aqui no Brasil. Com esta decisão, haveria a ordenação e o envio para vida missionária em alguma fraternidade aqui no estado de São Paulo. Num segundo encontro com o Provincial, me foi colocada a sugestão de ser formador em Penápolis. Sempre há um medo, um receio, porque tudo para nós é novo. Mas foi um convite bom. Assumi aqui em janeiro deste ano como formador e ecônomo da casa, e após a ordenação atuando como vigário ajudando aos freis Adalto, nosso Pároco, Sérgio e Fulgêncio.
E como tem sido a experiência em Penápolis?
De expectativa muito grande. Em Taubaté fiquei atuando apenas com uma pastoral, e chegando em Penápolis acabei assumindo 10 pastorais. É um confronto muito grande conosco mesmo. Gostei muito do povo de Penápolis, da cidade, de todas as comunidades. Estou procurando ajudá-los e todos tem procurado me ajudar também. A minha expectativa é que eu seja um pastor com autoridade de Jesus, qual seja, para servir, dialogar e trabalhar todos juntos em um mesmo objetivo e direção. Acredito que estou aqui mais para crescer, testemunhar, dar aquilo o que tenho para o povo de Penápolis, comunidade e sociedade ao redor. E conto com muita ajuda do povo, com trabalho, confiança, compreensão e seriedade. Para mim, Penápolis, apesar de estar aqui já há 4 meses, é tudo muito novo porque a cada processo tudo se renova. É um novo processo como estudante, novo como frade perpétuo, depois como diácono e vai ser para mim realmente tudo novo na condição de padre.
Que conselho dar aos jovens que estão pensando em entrar para a vida religiosa?
O conselho que dou aos jovens de hoje, que se sentirem o desejo, a vocação ou o interesse de estar conhecendo para adentrar para o sacerdócio ou pela busca da vida religiosa, vida fraterna e comunitária, é que se entreguem a esse chamado. Vindo de Deus, é um chamado como todas as religiões e movimentos, é aquilo que já brota dentro de Deus, no coração de Deus, e ele coloca no nosso coração. A vida religiosa como a matrimonial ou qualquer outra posição que assumimos não é apenas para nós, mas para nos doarmos em prol do próximo, da sociedade, para que possamos no meio a tantas violências, injustiças, desigualdades, ser um sinal de esperança, de fé, amor, diálogo, que é o que precisamos hoje em dia: compreensão. Então, ser um padre, um frade dentro da Igreja não é apenas para estar dentro de uma comunidade, mas é aquilo que o papa Francisco disse para nós quando assumiu a Igreja de Roma: a Igreja tem que estar nas ruas. Não é sair gritando, tem que ter um objetivo, tomar esta posição de vida, assumir esse desejo por uma vida consagrada. Não viver somente para nós mesmos, mas é se dedicar ao irmão, ao próximo, é tornar a nossa realidade um mundo melhor. Não apenas dentro das igrejas, mas principalmente nas ruas, na sociedade, buscar sempre fazer o bem, o amor, a caridade, a prática da justiça, da verdade, do diálogo. Estarmos aqui não é apenas uma posição, um status, mas um desejo, vontade de partilhar e fazer participarem de sua vida para que o outro também tenha vida.
Gostaria de acrescentar algo mais?
Que apesar das diferenças, que o muito do que acontece por aí, na realidade de sociedade, de igreja, de movimentos, é que nós possamos amar os irmãos, as pessoas com as quais convivemos. Amar também aos nossos inimigos colocando em prática aquilo que Jesus nos ensinou. Que apesar das diferenças, de igrejas e de fé, crenças, o que nós devemos levar em conta é o amor que está acima de tudo isso. Ou seja, o ser humano em primeiro lugar. Aquilo que pode nos desunir, que seria doutrinas, regras, normas, muitas vezes estatutos, que nos unam através do diálogo, de objetivos maiores que são pela solidariedade, pela verdade, pela justiça, porque o que salva o ser humano são esses conceitos. Religiões e regras são diretrizes, direções que tomamos e seguimos. Mas para a comunidade, eu vejo que o amor está acima de tudo. E que isso seja muito maior a nos uma no amor de Deus, do que aquilo que nos causa indiferenças a partir das regras.



AREIA BRANCA HORIZONTAL TOPO

Comentários

Atenção: Os comentários feitos pelos leitores não representam a opinião do jornal ou do autor do artigo.