Jovens possuem dificuldades para ingressarem no mercado de trabalho
Cidade
Ricardo Faria 30/04/2017Em
pleno século 21, os jovens brasileiros ainda sentem grandes dificuldades para
se inserirem ao mercado de trabalho. Alguns por simples falta de oportunidades,
já outros, em sua grande maioria, por falta de qualificação ou experiência
profissional. Daà surge uma questão que permeia a cabeça do jovem: Como terei
experiência se não me dão a oportunidade de começar a trabalhar? Tal
afirmação é corroborada quando olhamos os números do Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (Caged) nos três primeiros meses desse ano. Em
Penápolis, apenas 114 jovens tiveram a oportunidade do 1º emprego. Número menor
que do ano passado, por exemplo, quando fechou com 130 novas carteiras de
trabalho.
Se
fizermos um recorte, 43,7% os jovens que fazem jornada dupla, isto é, que trabalham
e estudam, encontraremos um número elevado de jovens que concluÃram o ensino
médio e outra que alcançaram o ensino superior. Dados são maiores do que
encontrados em paÃses ricos – apenas 23,3%, mostrando que a prioridade para os
jovens dos paÃses ricos são os estudos.
Dados são da Organização para Cooperação de Desenvolvimento Econômico
(OCDE).
Ratificando
os dados da OCDE, a Ação Educativa e o Instituto Ibi realizaram uma ampla
pesquisa entre os jovens e o trabalho no Brasil e constatou que entre os jovens
que trabalham e estudam e que possuem maior renda só ingressam no mercado de
trabalho com 16 a 17 anos. Já entre os de menor renda 14 a 15 anos no mesmo
tempo que frequentam o ensino fundamental.
O
caso da Jhulia Carolina Mota Blois, 20 anos, não é atÃpico entre jovens
mulheres. Ela engravidou e teve seu filho aos 16 anos, dificultando não só as
relações com a sociedade, bem como, no mercado de trabalho.
“Quando
se está grávida todos querem bajular, mas quando ganhei neném as minhas amigas
de escolas se afastaram pelo fato de já ter tido um filho. Quando se leva ao
mercado de trabalho a situação é ainda pior. Isso porque quando digo que tenho
filho só faltam fazer um asterisco em meu nome eliminando de vez a chance de
ingressar naquela empresa”, explica.
Ela
conseguiu sua primeira oportunidade aos 18 anos como agente de rua da Zona
Azul, ficando apenas quatro meses. Somente agora, quase dois anos depois,
conseguiu se recolocar no mercado de trabalho.
“Há
dois meses trabalho como auxiliar num estúdio de fotografia. Está sendo uma
ótima experiência, pois atendo telefone, auxilio nas fotografias. Estou
gostando do meu trabalho”, salienta.
Ela
pretende e está se esforçando para entrar no curso de Medicina, quiçá na
primeira turma do Unisalesiano em Araçatuba já no meio do ano.
“Estou
estudando pra isso. Penso que com o curso poderei mudar os rumos de minha vida,
pois, atualmente sem qualificação e experiência profissional as oportunidades
que surgem são mÃnimas”, diz com a experiência de ter esperado por uma chance.
Tatuagens
Não
muito diferente de Jhulia, o agora caixa de um restaurante no Penápolis Garden
Shopping, Paulo Bueno, 24 anos, teve dificuldades para encontrar seu primeiro
emprego. Logo encontrou em uma das maiores distribuidores energéticas do paÃs.
“A
experiência foi boa, meio assustadora no começo pois eu nunca tinha trabalhado
antes e já comecei logo em uma empresa grande que atende muito público. No
começo é meio difÃcil e dá vontade de desistir logo nas primeiras semanas, mas
com o tempo você começa pegando o jeito e vai ficando mais calmo. Contudo,
desconfio que me mandaram embora por eu ter tatuagens no braço direito e isso
pra mim foi muito decepcionante”, explica.
Paulo
explica que houve, no quase um ano e meio de desempregado muito dificuldade
para se recolocar no mercado de trabalho. “A busca por outro emprego, foi mais
complicado, entreguei currÃculos em muitos lugares na cidade. Em empresas, nas
agências de emprego e até no PAT [Posto de Atendimento ao Trabalhador], e nada.
Muitos viam a pouca experiência e não retornavam”, salienta.
Como
tática sempre saia pra entregar com uma camisa longa pra não mostrar a
tatuagem. Se na entrevista perguntassem eu falava, mas acho que a tatuagem
ajudava a não chamarem, além da pouca experiência”.
Há
um mês, ele trabalha como caixa em um restaurante na Praça de Alimentação do
Penápolis Garden Shopping, que seu tio montou. “A experiência nesse novo
emprego está sendo muito boa, acho que o pouco de experiência que tive no
antigo trabalho, ajudou para que eu não repetisse os mesmos erros e o perÃodo
sem trabalho serviu para que eu desse dar mais importância na questão de estar
empregado com carteira assinada, porque é muito difÃcil arrumar um emprego,
ainda mais sem experiência”, diz.
Reformas
Tanto
a lei da terceirização, bem como as reformas da previdência e trabalhistas irão
atingir diretamente a população jovem dos 15 aos 29 anos, que hoje em Penápolis
são mais de 14 mil, isto é, 25% da população penapolense.
Na
reforma da previdência, por exemplo, um jovem de 16 anos terá de entrar no
mercado de trabalhar initerruptamente por 49 anos para se aposentar aos 65
anos. Caso contrário, aposentará com idade superior aos 70 anos.
Já
na terceirização e na reforma trabalhista se a relação de empregado e
empregador ficou mais frágil, com a juventude que sofre para entrar no mercado
de trabalho, sendo que muito das vezes em subempregos sem carteira assinada,
com salários baixÃssimos e carga horária de trabalho elevadÃssimos ficou ainda
mais latentes.
Paulo
confessa que não está acompanhando de perto as discussões sobre as reformas
trabalhistas e previdenciária, mas crê que não deveriam mudar as regras atuais.
“Pra
falar a verdade eu nem estou acompanhando muito, mas acho que não deveria mudar
uma coisa que está assim faz muitos anos. Até porque muitos jovens começam a
trabalhar muito tarde por conta de sua classe social mais elevada. Eu, por
exemplo, tinha uma condição melhor e hoje vivo uma realidade muito diferente da
qual eu tinha. Muitos jovens também só querem trabalhar depois de formado e em
sua área de formação e mudando as regras atuais prejudicará a aposentadoria lá
na frente”, finaliza.
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