Com túmulo personalizado, casal ‘se mistura’ aos mortos em cemitério
Região
Aposentados já colocaram os nomes, data de nascimento e fotos no jazigo
Da Redação 04/11/2022O túmulo de mármore do casal Palmira Pereira Ignácio Castilho, de 72 anos, e José Castilho dos Santos, de 87, tem nome, data de nascimento e fotos. Os aposentados “se misturam” aos mortos no cemitério de Avanhandava, porém, ambos estão bem vivos e, no Dia de Finados - celebrado na quarta-feira (2) -, levaram flores para eles mesmos.
O fato curioso já gerou situações engraçadas. Até velas já foram queimadas para o casal. “Viemos lavar o jazigo e achamos um monte delas. Raspamos e jogamos fora. Aqui não tem ninguém sepultado”, relatou Palmira.
Quando Santos limpava a própria sepultura, um rapaz se aproximou, ficou olhando e, diante da semelhança dele com a foto no túmulo, perguntou se era o pai dele que estava enterrado ali. “Não, o da imagem sou eu”, disse. Consta que o rapaz não quis saber mais de conversa e logo saiu do local.
O aposentado relatou que riu em seguida. “Acho que ele pensou que éramos almas de outro mundo”, contou Palmira. Logo que o túmulo ficou pronto, Valdite, em visita ao campo-santo, se assustou e começou a chorar ao ver as fotos, lamentou a “morte” da amiga de infância.
Com tristeza, só após procurar uma parente que se convenceu de que o casal não tinham morrido. “Achei que ela tivesse mesmo morrido e ninguém tinha me avisado. Depois do susto, fiquei aliviada e dei um forte abraço nela”, lembrou.
IDEIA
A ideia de construir o jazigo e identificá-lo com nome e foto foi da aposentada, agora, moradora de Avanhandava, onde tem parentes. Palmira e Santos vivem juntos há mais de 30 anos. Quando pensou em fazer isso, ela teve aprovação do marido, mas não dos dois filhos.
“Eles ficaram revoltados e disseram que não havia necessidade. Ninguém nasce para ficar em definitivo na terra. Quis deixar tudo pronto para evitar preocupação é só colocar a data do falecimento”, explicou.
“Não tenho medo da morte e, por isso, me preparei. A roupa que usaremos no momento da partida também já foi escolhida e está separada”, completou.
PAZ
Com quatro gavetas, o túmulo, construído em dois terrenos, não tem ninguém sepultado. “Era um sonho que eu tinha. Escolhi a foto, o que talvez não fosse possível depois do falecimento. Sinto-me realizada”, revelou à aposentada, que é evangélica.
Segundo ela, a primeira vez que ficou diante do túmulo identificado com as fotos, teve uma sensação de paz e tranquilidade. “Lido bem com a morte e sou bem realista. Já meu marido tem um pouco de medo de falecer”, ressaltou. Palmira paga mensalmente um seguro funerário para o casal.
A sepultura chama muito a atenção. Ao ser entrevistada no cemitério, ela foi chamada de corajosa por uma pessoa que passou e viu as fotos, mostrando que nem todo mundo aceita com naturalidade a ideia da aposentada. (*) Com informações de Odair Vicente/Avanews
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