JOVEM PAN PENÁPOLIS

Criada na década de 90 em Luiziânia, associação recuperou centenas de pessoas do alcoolismo

Região

Delegado da época teve a ideia de fundar a ARA, após constatar que brigas envolviam o álcool

Delegado Eugênio (centro), em conversa com dois recuperandos: Ferreira e Rodrigues

Delegado Eugênio (centro), em conversa com dois recuperandos: Ferreira e Rodrigues. Foto: Ivan Ambrósio

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O alcoolismo é uma das doenças de dependência química mais difíceis de serem tratadas, por ser um vício de uma droga lícita e até mesmo vangloriada pela sociedade. Além dos prejuízos à saúde, o consumo nocivo pode trazer danos à família e amigos, além de provocar perdas econômicas e sociais, não somente aos próprios indivíduos que sofrem com este problema, mas a todos em sua volta.

Pensando nos malefícios que a bebida trazia e em uma forma de ajudar os que pretendiam dar a volta e mudar de vida, o delegado Eugênio Pedro Bibiano Timóteo dos Santos fundou, na década de 90, a ARA (Associação de Recuperação de Alcoólatras) em Luiziânia que, até os dias atuais, rende muitos frutos, boas lembranças e a sensação de missão cumprida em poder colaborar na recuperação de centenas de pessoas que, com determinação e coragem, conseguiram abandonar o vício.


INÍCIO

Ele, que era delegado titular na época, lembrou que a iniciativa surgiu após constatar o grande número de ocorrências que aconteciam, principalmente aos finais de semana, de desinteligência. “Eram brigas e discussões de casais que, na grande maioria, começavam com o homem tendo ingerido álcool”, recordou. A partir deste levantamento, o delegado passou a chamar os envolvidos e propor ajuda.

“Foi quando, juntamente com minha amiga Assunta Curti, fundei o ARA, que consistia num grupo de autoajuda, onde eram feitas palestras e outras ações para mostrar aos participantes que, com a força de vontade deles, podiam abandonar o álcool e ter uma outra vida com mais qualidade. No começo, alguns relutaram em participar, mas eu pedia para o investigador ir buscá-los”, disse.

Grande parte dos encontros aconteciam na creche Dom Sávio. As palavras-chave eram: “vou ficar 24 horas sem beber”. Havia ainda orações, troca de experiências e os participantes tinham conhecimento dos males que o álcool provoca. “Nos encontros, trabalhávamos na mente deles, conscientizando-os a reconhecer que tinham um problema e que precisavam se recuperar”, comentou.

A associação começou com 40 pessoas e, no final, aproximadamente 110 tinham parado de beber. “Conseguimos reduzir a zero os casos de desinteligência em Luiziânia. O álcool é o caminho para outras drogas e o alimento para o espírito doente, pois aquele que bebe um copo todo dia já está viciado, assim como o que ingere uma caixa”, ponderou.

Santos ainda acrescentou que se emociona até hoje com os bons frutos colhidos com o projeto. “É uma alegria imensa ver que conseguimos mudar a vida de centenas de pessoas. Para isso, é muito importante que o dependente reconheça o vício e não tenha vergonha de pedir ajuda. Além disso, o apoio da família é essencial durante todo o processo”, analisou.


DEPOIMENTOS

Dentre os participantes, duas pessoas o delegado nutre um carinho especial. Uma delas é o aposentado Paulo Ferreira, hoje com 57 anos, relatando que o vício pelo álcool começou aos 20 anos. “Minha visão era muito limitada, pois me tornei um dependente. Qualquer pessoa que me falasse algo eu ignorava”, contou. Ele ainda lembrou que, na época, exercia o trabalho rural, porém, todo o dinheiro que ganhava tinha um único objetivo: saciar a bebida.

“Com muito sacrifício, consegui comprar uma casa, porém, pensei inúmeras vezes em vendê-la para consumir mais. Eu achava que estava certo, mas, na verdade, me auto prejudicava e, principalmente, aos meus familiares, como esposa e filhos”, ressaltou. Convidado a participar da associação, Ferreira se emocionou ao relembrar todo o apoio que recebeu.

“Meu alicerce para se livrar do vício foi minha família, em especial a minha mãe e esposa. A cada encontro, fui enxergando o quanto a bebida me fazia mal. Não foi fácil no começo, pois tive momentos de recaída, chegando ao ponto de procurar, debaixo da cama, se tinha alguma garrafa”, ressaltou. Ele ainda classificou esse período como uma “batalha muito dura”, mas vencida, pois conseguiu adquirir outros bens e realizou um curso de operador de máquinas agrícolas, onde trabalhou até se aposentar.

“Só tenho a agradecer a todos que me ajudaram, especialmente minha família, o Dr. Eugênio, Josias Bezerra e o dono de uma gráfica em São Paulo. Hoje sou a pessoa mais feliz, pois tenho prazer de ficar em casa com minha família. Para quem luta contra esse vício, é preciso muita coragem e fé em Deus”, finalizou. Outro recuperando que participou da ARA é o também aposentado Natalício Machado Rodrigues, de 65 anos.

“Mudei 100%. Comecei a beber cachaça com 14 anos até os 35. Trabalhava na roça e não tinha dinheiro nem para comprar um chinelo, já que gastava tudo na bebida”, recordou. Ele, que morava com os pais na época, foi convidado e, no começo, relutou.

“Quando eu me atrasava para as reuniões, o Dr. Eugênio pedia para o investigador me buscar. O começo sempre é difícil e, para evitar beber, eu ia pescar e nem frequentava os bares. Busquei muito a Deus e a Nossa Senhora Aparecida, onde obtive força e coragem para abandonar o vício”, observou.

Rodrigues frisa que sua mãe foi uma das maiores incentivadoras de sua recuperação. “Sou uma pessoa extremamente feliz, com uma família linda, uma esposa que também me apoiou e uma consideração grande pelo Dr. Eugênio, que estendeu sua mão para me ajudar”, concluiu. Quem possui algum familiar que esteja se livrando do vício e precise de ajuda, basta procurar o delegado na delegacia do município, na avenida Mato Grosso, 33.



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