Marquise do shopping da rua São Francisco é demolida
Cidade
Laudo da perícia comprovou que estrutura que cedeu ano passado estava com peso 82% a mais
Ivan Ambrósio 12/07/2020Quem passou essa semana próximo ao Penápolis Shopping Center, que fica entre a avenida Bento da Cruz e a rua São Francisco, na região central da cidade, notou funcionários de uma empresa contratada realizando a demolição da marquise da rua São Francisco.
A cena, para alguns, fez relembrar à tarde daquele sábado de 23 de novembro de 2019, quando uma estrutura, um pouco menor e, até então, parecida, desabou ceifando precocemente a vida da jovem Késia Aquilino Cândido, de 18 anos, e ferindo a fisioterapeuta Juliana Maria Garcia, de 38.
A síndica do centro de compras, Carla Braz, informou que a demolição da marquise da rua São Francisco já estava programada para ocorrer. “Apesar de termos laudos comprovando a segurança da estrutura, decidimos fazer este procedimento contratando uma empresa especializada”, disse.
Ela acrescentou que a medida foi tomada em virtude do alto custo desembolsado pela direção do shopping em fazer uma avaliação a cada cinco anos da estrutura. “Só grandes empresas fazem essa análise e isso é caro. A retirada representa um terço do valor que gastaríamos com esse procedimento, além de padronizarmos as entradas, entre elas a da avenida Bento da Cruz”, destacou. Os trabalhos são acompanhando por especialistas.
LAUDO
Passados sete meses da tragédia, muitas questões ainda não foram respondidas sobre o que, de fato, ocorreu naquele dia. As investigações das causas do acidente continuam sendo feitas pela Polícia Civil na busca de esclarecimentos.
Segundo o que foi apurado pela reportagem, alguns lojistas e familiares das vítimas já prestaram depoimento, bem como houve a recolhimento de documentos. Os trabalhos são presididos pelo delegado titular do 1º DP (Distrito Policial), Guilherme Brandão de Souza.
Laudo do IC (Instituto de Criminalística), obtido com exclusividade pelo INTERIOR, após meses de investigação e apuração das informações, apontou que a estrutura estava com um peso 82% a mais de sua capacidade. De acordo com o documento, a marquise tinha sete camadas de argamassa e uma manta impermeabilizante.
Os peritos analisaram que os três condicionadores de ar, que ficavam acima, somados com as argamassas, fez com que houvesse o aumento do peso da marquise, além de infiltrações e da armadura da laje estarem posicionadas de uma forma que contraria os cálculos usuais.
A equipe ainda constatou que, na parte estrutural do prédio, havia rachaduras transversais e que ocorreu erro de execução ou de projeto na estrutura. Além da Polícia Civil, o Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo) acompanha o caso, realizando uma perícia dias após a tragédia.
Dois representantes do órgão, entre eles o gerente regional José Paulo Saes, foram ao local colher documentações e imagens. Eles permaneceram por mais de uma hora vistoriando todo o prédio na parte interna e externa. Representantes do shopping acompanharam os trabalhos, assim como engenheiros da Prefeitura.
Na época, Saes explicou que a análise feita naquele momento era administrativa, ou seja, colheram documentos, além de notificarem o empreendimento e demais órgãos. Ele acrescentou que o objetivo não era analisar os motivos que levaram à queda da estrutura, mas sim a conduta do profissional responsável pela obra.
INTERDIÇÃO
Dias após a tragédia, a coordenadoria municipal de Defesa Civil decidiu que o Penápolis Shopping Center permanecesse interditado até que houvesse a apresentação de um laudo técnico que atestasse a segurança do prédio e a atualização do AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros), já que as portas de evacuação tinham sido reduzidas.
Em 4 de dezembro, o centro de compras foi reaberto, após liberação de laudos técnicos e periciais que atestaram as condições de operacionalidade. Na época, para o funcionamento do empreendimento, a direção deveria seguir todas as orientações contidas no laudo expedido pela engenheira especialista em estruturas de concreto armado e pelo Corpo de Bombeiros.
Oito dias depois, a Defesa Civil se reuniu novamente e manteve o funcionamento do prédio, cuja estrutura estava segura, tanto no interior, como em seu entorno, sem nenhum risco aos frequentadores do espaço, conforme laudos técnicos.
Toda a estrutura estava adequada às normas técnicas exigidas pelos órgãos competentes. Em fevereiro deste ano, técnicos da empresa Azeredo Engenharia, de São Paulo, realizaram uma avaliação e testes para início de recuperação de parte da estrutura onde estava a marquise.
No período, a direção do centro de compras informou que os trabalhos eram providências normais e não por qualquer problema estrutural do shopping, que recebe, semanalmente, vistoria e se encontra em “perfeitas condições de estabilidade”.
Eles ainda reforçaram que a ação feita pela empresa atestaria e garantiria a total estabilidade da marquise da rua São Francisco e que o prédio não apresentaria o mínimo risco aos lojistas, funcionários e, principalmente, aos usuários.
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