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“Ninguém sairá dessa crise como entrou”, diz consultor de empresas Willians Dantas

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Ele avalia que os modos de vida e convivência, e questões empresariais irão mudar nas pessoas

Willians Dantas compartilhou conhecimentos e orientações na área administrativa durante programa de entrevistas

Willians Dantas compartilhou conhecimentos e orientações na área administrativa durante programa de entrevistas. Foto: Imagem/JI

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A série de entrevistas ‘Direto da Redação’, coordenada pelo jornal INTERIOR, com transmissão ao vivo pelo Facebook, encerrou a semana entrevistando o advogado empresarial, contador, professor, consultor de empresas e perito judicial, Willians Cesar Dantas, que falou sobre a relação do trabalho e capital durante o novo coronoavírus, o covid-19. Ele foi entrevistado nesta sexta-feira (3) pelos jornalistas Gilson Ramos e Ivan Ambrósio.

Segundo ele, não é possível falar de saúde sem falar de economia, e por mais que as pessoas tentem rotular diferentemente, elas não podem andar separadas. “Eu costumo dizer que ninguém vai dessa crise da mesma forma que entrou, em nenhum aspecto”, garantiu.

No seu entendimento, economicamente, na própria saúde, nos modos de vida e convivência, e principalmente na questão empresarial, as pessoas irão mudar, pois a pandemia será um grande aprendizado para todos. “Vai ser duro, muito duro, mas os conceitos serão alterados e paradigmas irão cair”, alertou o entrevistado.

Atuando com assessoria no meio empresarial, especificamente no setor de produção calçadista em Birigui, Dantas lembrou que hoje os empresários têm ciência de que terão crises pós pandemia, sendo a saúde a principal. “Na economia, haverá o rompimento da cadeia produtiva, com as indústrias querendo produzir, mas não o farão pela falta de matéria prima. Em relação ao consumo não será diferente, pois o brasileiro não tem reserva para passar mais que 15 dias”, explicou.

Dantas reiterou que a pandemia do Covid-19 terá reflexos futuros, especificamente em mudança de hábitos na relação entre empresas e trabalhadores, com as partes buscando o entendimento que seja favorável para garantir os empregos e as empresas.

Em números, informou que são as pequenas empresas, com sete milhões de estabelecimentos, 99% de pequenos e médios, que representam 27% do PIB brasileiro e absorve 52 % de todo emprego com carteira assinada.

“Todos terão que redesenhar seus métodos de produção e comércio, e a visão hoje é que empresários e trabalhadores não são adversários, e as dificuldades são as mesmas para os dois. Isso vale para cliente e o fornecedor da matéria prima”, explicou.

Dantas acredita que esse entendimento terá reflexos futuros, e destaca que a sociedade, bem como a indústria e o comércio mudarão nessa relação, e sendo bem realista, afirmou que nascerá uma relação de emprego diferenciada, e uma nova realidade de contratação. “Vamos avançar muito nisso. Agora os dois estão com as mesmas dificuldades”, refletiu.


PERDAS

Para Dantas, diante da crise que o coronavírus está colocando o país, não haverá lado que arrebente primeiro, ou não arrebente. Tanto o empresário quanto o trabalhador, ambos estão no mesmo grau de importância e nível de responsabilidades.

“Como eu tenho dito, as pessoas não podem mais ser tradadas de forma diferente, e muita coisa vai mudar depois disso. O processo digital nos deu a condição de trabalhar em casa, em qualquer lugar e horário. Outras mudanças virão”, garantiu, ao exemplificar que poderá surgir o pagamento por hora, modalidade adotadas em muitos países.


INCENTIVOS

William Dantas comentou sobre as medidas de incentivos adotadas pelo governo federal, com a edição de uma medida provisória, sobre a liberação de recursos, primeiramente para o pagamento de um auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores de baixa renda prejudicados pela pandemia do coronavírus

O auxílio emergencial será destinado a cidadãos maiores de idade sem emprego formal, mas que estão na condição de trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI) ou contribuintes da Previdência Social. Também é necessário ter renda familiar mensal inferior a meio salário mínimo per capita ou três salários mínimos no total, e não ser beneficiário de outros programas sociais ou do seguro-desemprego.

“É o que deve ser feito. As pessoas não têm reservas, sempre foram estimuladas a fazer crédito, mas esse é o nosso costume. Mas essa medida não segura o emprego, é mais social”, observou.

Em relação aos empresários, Dantas disse que a ajuda é muito tímida, evidenciando que estes estão sem recursos para fazer a folha de pagamento, pagar impostos, e ainda se preocupando em produzir. “Mas produzir para quem”, indagou.

Por outro lado, disse que hoje são cerca 5 milhões de MEIs (Microempreendedores individuais), com os informais chegando a 38 milhões, segundo o governo, e todos terão dificuldades.

“A cada três meses o governo vai ficar editando uma medida provisória para resolver o momento”, perguntou Dantas.

No seu entendimento, com essa pandemia, que pode não ser a única, os governos precisam ter medidas para evitar o caos social, inclusive com a inclusão, em seus orçamentos, de recursos para esse tipo de calamidade.

“Hoje, usam os recursos do Seguro Desemprego, não do orçamento. Futuramente, quando os poderes legislativos forem votar a parte orçamentária, deverão prever esse tipo de situação”, alertou.

Ao fazer essa observação, o entrevistado exemplificou que não existe, nos orçamentos dos governos, sejam eles federal, estadual ou municipais, garantia de recursos específicos para isso. “Se essa situação persistir por mais tempo, não temos reservas e a situação é preocupante. A arrecadação vai cair, e com isso reduz os recursos do Fundo de Participação dos Municípios, e isso é geral”, alertou.


ALUGUEL

Em relação aos aluguéis, já que grande parte dos comerciantes tem seus empreendimentos em prédios alugados, Dantas disse que a melhor forma de lidar com uma possível falta de recursos para pagar pelo espaço é a conversa, evitando a prática judicial.

“Hoje é uma pratica de cavalheiros, e as partes podem discutir sobre a melhor forma de resolver. Recomendo que mande uma carta, ou notificação ao proprietário expondo o caso da pandemia, e como propõe pagar, seja em partes ou outra forma”, explicou Dantas.

Segundo ele, o dono não pode ficar sem receber, e se ficar intransigente, tente depositar em juízo o valor que poderá pagar. Se o dono não aceitar, que promova uma ação judicial para tirar você do prédio”, disse.


ECONOMIA PODE DEMORAR 3 ANOS PARA REERGUER

A pandemia do coronavírus vai jogar o mundo inteiro em uma recessão este ano e alterar de maneira permanente a forma com que países e empresas fazem negócios. Para especialistas em relações internacionais as medidas tomadas por governos para conter o avanço da covid-19, em 2020 terá dois tipos de impacto. No curto prazo, a riqueza mundial, medida pelo PIB, vai diminuir, isso é quase certo. E, no longo prazo, governantes e corporações vão mudar a forma com que produzem, compram e vendem produtos e serviços.

Segundo Dantas, com a liberação desse recurso, no valor de R$ 600, o colapso social pode ser menor, mas em relação ao empresário, a situação ainda é diferente. “Eles estão em dificuldades, o empresário não tem dinheiro para o pagamento do mês que vem. Tem para agora, mas depois não tem. Nessa crise, em época de pandemia, o juro bancário aumentou. Daqui um ano, podem observar, o balanço do banco vai bater recorde de lucros”, alertou.

Embora não condene esse procedimento dos bancos, Dantas disse que isso é a realidade. “Com tudo isso acontecendo, e não sendo tão sombrio, acredito que vamos demorar entre dois e três anos para a recuperação da economia. As pessoas estão tentando pegar dinheiro, não tem reservas”, relatou.


FUNDO

Como disse anteriormente sobre as mudanças que irão ocorrer após a pandemia, Dantas acredita que os empreendedores terão que optar por metas, sendo uma delas a formação de um fundo de emergência para atravessar as próximas crises, sejam elas de que natureza for. “Muita coisa vai mudar, inclusive o fluxo de caixa. Não fez agora quando ele tinha condições, não vai fazer na crise. Mas o empresário brasileiro é assim mesmo”, observou.

Citou como exemplo o setor calçadista, onde muitos que são empregados nas grandes indústrias se tornam patrões. “Depois de montar, e a empresa decolar, eles começam a comprar bens, o que não é errado. Se ele quer ser empresário, tem que ter um conceito (fluxo) para dar maior sustentabilidade em momentos como estes”, alertou.



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